domingo, 12 de setembro de 2010

Bolinhas

Um conto babaquinha e clichê só pra você perceber que essas coisas existem fora da TV.




Enquanto o sinal estava fechado de um carro importado uma criança observava um menino de rua fazer malabares com bolas que julgava ser de borracha. Queria descer e brincar com ele, mas o tempo era corrido tinha de ir para a aula que também se estendia durante as tardes. Só haveria tempo para passar no mc donalds e comprar um sanduíche qual quer. Durante pouco mais de dez segundos olhou o tom jocoso com que aquele desconhecido lançava as bolas verdes. Cruzou seu olhar com o olhar do desconhecido, ele tinha a sua mesma idade e percebendo um apago sorriso cuidou em retribuir com um sorriso mais vivo. Após o efêmero show de malabares o desconhecido aproximou-se do carro importado. Era magrinho e amarelado faltando-lhe alguns dentes de leite. O motorista percebeu a aproximação e em um gesto de negação cuidou em afugentar aquele minúsculo ser. O objetivo da aproximação era claro e já fazia parte da rotina daquele motorista. Seu patrão já havia dito para não mais dar dinheiro para as crianças do sinal, pois o dinheiro dado servia de estimulo para continuarem a povoar os cruzamentos e esquinas da cidade. Cabisbaixo o pequeno desconhecido se afastou da viatura e sentou na esquina. A criança levada pelo motorista sentiu-se entristecida com o gesto de seu condutor, se reconhecia naquele menino de rua absorvendo-lhe a tristeza. Percebeu que o desconhecido tirava de dentro do bolso um canivete e aos poucos furava uma das bolinhas que utilizara em seu show. Estranhou aquela atitude, pois aos poucos engolia pedaços da bolinha. Sentiu-se aterrorizado, achava que ele iria se matar. Puxou o trinco do carro rapidamente, a porta estava destravada. Desceu de forma avassaladora correndo em direção ao desconhecido, escorregou tombando ao aproximar-se totalmente dele. Levantou-se lentamente percebendo que lhe ofertavam um pedacinho da bolinha. Olhou de perto e entendeu que não era bem uma bolinha, apesar do formato circular. Surpreendeu-se quando se tocou que o instrumento de trabalho daquela criança era também seu alimento. Utilizava laranjas achadas no mercado municipal. Sorriu levemente absorvendo a fome do desconhecido. O motorista saiu rapidamente do carro e após abraçar o filho de seu patrão fortemente guiou-lhe ao interior da viatura. Travou as portas e o sinal abriu verde com as laranjas. O garoto riquinho deu tchau para o menino de rua e sentindo a barriga roncar só conseguiu pensar em um delicioso BIG MAC. Queria fazer malabares igual o menino de rua, mas com sanduiches seria um pouco complicado.

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Pensamento do Autor

Em um cruzamento qual quer da zona leste eu vi um palhaço soltando fogo, autônomos vendendo DVDs e crianças fazendo malabarismo com bolas, ou seriam laranjas verdes? Aquele conglomerado me fez pensar automaticamente: Nossa a cidade está crescendo! Um segundo depois me toquei da infelicidade daquele pensamento. A cidade não está crescendo coisa nenhuma, desde quando demografia indica qualidade de vida? Enfim nós pensamos cada coisa.

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